sexta-feira, 23 de abril de 2010

A casa de Teresa

Teresa Cristina no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Foto: Laís Aranha

Por João Vicente Seno Ozawa*

Com Teresa Cristina, o palco vira sala de casa. Com sabor de “pão matinal”, como bem disse Drummond, ou com a vivacidade de um encontro com os amigos, como bem sabe todo aquele que reúne seus parceiros para jogar conversa fora. No dia 18 de abril, a cantora e compositora esteve no SESC Pinheiros, mas a sensação era de se estar em algum lugar muito mais próximo e familiar do que a plateia de um auditório.

Diante, um palco sem excessos, ornamentado apenas por longos fios que sustentavam centenas de lâminas coloridas pelo reflexo das luzes. Difícil não aliar a beleza da cenografia à música que a rodeava: sem firulas, falsas impressões ou tentativas de se passar algo que não se é. O samba de Teresa Cristina fala direto, fala da alma. E a alma, como se sabe, fala simples e fala claro, quando se quer ouvir.

Logo de início, após interpretar Poesia, a compositora fala, docemente: “Gente, gosto tanto dessa música” e corre a amenizar o comentário, já que a canção é de sua autoria. Explicação sem necessidade, pois Teresa Cristina fala longe de qualquer sombra de arrogância, mas apenas reconhece o encanto claro desta sua obra. Em Beijo Sem, “presente de Adriana Calcanhoto” – segundo a sambista –, um deslize na letra causa um ataque de risos ao ponto de interromper a peça. Uma pausa, diga-se de passagem, acompanhada por aplausos da plateia. O espirituoso e espontâneo da cena lembrou este que escreve de uma gravação < http://www.youtube.com/watch?v=RkzwNOTkGOs> de Gal Costa, Djavan e Chico Buarque, de tempos atrás.

A grande maioria das composições interpretadas é de autoria da própria Teresa Cristina, à exceção de pérolas como A História De Lily Braun de Chico Buarque e Edu Lobo e A Felicidade de Vinicius de Moraes e Tom Jobim – canções que, parece, foram escolhidas pelo grau de diversão e entusiasmo que causavam na cantora que, aliás, chamou a atenção ao fato de que “toda mulher deveria cantar, ao menos uma vez por dia”, este clássico de Chico Buarque.

Ao fim do espetáculo, Teresa Cristina convoca duas espectadoras ao palco: sua sobrinha e uma senhora com mais de oitenta anos de vida, mas menos de vinte anos nos pés. A senhora, aliás, havia sido foco da atenção do auditório em outra ocasião, ao dançar em frente ao palco por alguns instantes e arrancar um olhar sorridente da cantora.

Dividendos finais, uma plateia alvoroçada, que aplaudia com vontade cada canção e terminou o espetáculo em pé. Inclusive, em determinado momento, a sambista convidou os dispostos a dançar que o fizessem nos cantos do auditório, não muito antes de perguntar sobre o resultado do jogo do Botafogo. E são esses retalhos de franqueza que colocam o ouvinte na casa de Teresa Cristina: o palco.

*João Vicente Seno Ozawa é do setor de Mídias Sociais e Marketing do Showlivre.com e escreve no blog Muito horror show.

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