quinta-feira, 22 de abril de 2010

Coachella 2010: três dias de música, areia, junk food e ecstasy

Marcelo Iwasaki - ou Japão, para os íntimos -, amigo de longa data do editor-chefe do Showlivre.com Rodrigo Carneiro, é um cidadão do mundo e esteve na edição mais recente do Coachella Festival, nos EUA, e mandou para este blog suas impressões e alguns registros fotográficos. Confira.

No hemisfério norte, os americanos despedem-se do último rigoroso inverno acenando para a primavera, que chega majestosa em 2010, saudando o povo com a agradável combinação de flores de todos os tipos e cores e aquela sensação de que as jaquetas, luvas e cachecóis podem ser guardados nos armários, até que as estações mais frias cheguem novamente.

Com a brisa quente e o aroma floral, a primavera dá sinal verde para que os festivais de música comecem a atrair jovens, revelar novos talentos e reunir outros tantos, que já foram atrações principais em palcos de festivais de tempos mais remotos.

Na Califórnia, o primeiro grande festival de música que acontece após o inverno é o Coachella Festival, que faz um aquecimento para festivais como Lolapalooza, Reading Festival e Fuji Rock Festival.

Realizado anualmente na cidade de Indio, no Vale Coachella, a cerca de duas horas de Los Angeles, o festival reúne no deserto da Califórnia jovens interessados em música, camping e badalação. São cinco palcos com shows simultâneos, sendo que o espaço para o público no palco principal é de aproximadamente 40 mil pessoas.

Este ano o festival aconteceu entre os dias 16 e 18 de abril e contou com a participação de nomes de peso na música internacional, como Faith No More, Gorillaz, Tiësto, Jay Z, Muse e Thom Yorke. Veja o line-up completo nos site do evento.

Três dias de música, areia, junk food e ecstasy
A aventura para os três dias de festival começa na estrada para o deserto. Vários carros pintados com desenhos psicodélicos trafegam pelas “highway “ oferecendo carona para quem tem como destino o Coachella Festival.

A entrada, com o não poderia ser diferente para eventos onde são esperadas cerca de 75 mil pessoas por dia, é um tanto confusa e demorada. Quem vai acampar ( um dos atrativos do festival ) passa por uma revista no automóvel, o que faz com que a fila de carros comece a cerca de três milhas da entrada.

No local de camping, um voluntário do evento organiza a fila de carros e os direciona para os locais corretos. Vale ressaltar que a organização do camping é impecável, com latas de lixo por todos os cantos, refletores e banheiros funcionando e um gramado artificial, que minimiza o calor durante o dia e evita que “coachellers” tenham contato direto com a areia do deserto.

Cerca de dez praças de alimentação foram instaladas para o evento. Pizzas, burritos, tacos, nachos, hamburguers, curry e falafels eram os principais cardápios encontrados. Barracas de feira foram instaladas para vender frutas e hortaliças e uma barraca de hippies vendia um delicioso e saudável suco verde feito de frutas e vegetais. Para quem não dispensa um bom cafézão ( nos Estados Unidos não existem cafezinhos, apenas cafezões), barracas de cafés orgânicos também não faltaram.

Uma parte ruim disso era a falta de locais com sombra para comer e a areia que levantava dos carros que passavam pelos caminhos onde não haviam gramado. Outra parte ruim era o preço os alimentos. Uma Coca-Cola não saia por menos de U$ 3,00 ( cerca de R$5,50 ) e Burrito breakfast que é encontrado nas ruas de Los Angeles por U$4,00 não saia por menos de U$8,00 ( R$ 14,00 ). Não gostaria de revelar isso, mas paguei aos hippies U$10,00 por menos de um litro do suco verde.

Uma dica para quem for acampar na próxima edição do Coachella Festival é levar seus próprios alimentos para não ter que voltar do festival com a carteira vazia.

Para minimizar a nuvem de poeira, eram despejados por carros-pipa, litros de água nos caminhos por onde não havia grama artificial plantada, causando muita lama. Por muitas vezes, era possível ver “coachellers” correndo atrás de carros-pipa para aproveitar a água e tomar banho ou até mesmo escovar os dentes.

Alguns “desencanados” não se importavam com banhos, comida e poeira. No Coachella Festival é muito comum ver pessoas pintadas com desenhos psicodélicos dançando, abraçando-se uns aos outros e procurando disco voador nos céus do deserto californiano. O ecstasy pareceu ser a droga do evento. No sábado,17, o vocalista do MGMT Andrew Van Wyngarden disparou contra o público “... who is using drugs here?” ( quem está usando drogas aqui? ), antes de começar o grande sucesso das telinhas da MTV “Time to Pretend”, recebendo um enorme “ Yeah!!” da plateia.

Reunião old school
Quem curtia rock nos anos 1980 e 1990, jamais podia prever que os Pixies e o Rage Agaisnt The Machine poderiam voltar aos palcos. Não apenas viram as reuniões dessas duas grandes bandas no Coachella Festival em 2004 e 2007 como passaram a esperar o próximo festival para saber quem serão as próximas bandas a voltar às atividades.
Este ano Pavement, Specials, Sunny Day Real Estate e Faith No More ocuparam estas posições. “Second Coming “, título da turnê de reunião do Faith No More, que já foi vista em 2009 no Brasil, sugere uma “ segunda gozada”, também, do Pavement, Sunny Day e Specials.

E as bandas voltaram com força máxima. Em ambos casos os músicos, agora mais experientes, retornam com o talento nato revitalizado pelo hiato. Mike Patton está cantando melhor que nunca e parece que o camarada não envelhece. O vocalista é um moleque no palco, pulando gritando e se atirando no público.

Minutos antes do Pavement tocar seus maiores sucessos no palco principal, o Coachella Stage, o Sunny Day fazia seu show de reunião no Outdoor Stage. Uma das mais influentes bandas da geração 1990, o Sunny Day lembrou o que houve de melhor na década passada. Uma espécie de “Old School Sad Songs”.

Por falar em Old School, o De La Soul também mandou Hip Hop´s de verdade para os “coachellers”, misturando fúria e sensibilidade.

Já que o Coachella Festival virou sinônimo de reunião de grandes bandas, quem sabe, não estaremos aqui nos próximos anos informando a reunião de Smiths ou Sepultura com os irmãos Cavalera. Não custa nada sonhar, já que até o Echo and The Bunnymen e Devo tocaram por aqui.

Novas Bandas ( New School – Kindergarten )
Nem só de reuniões e bandas Old School fez-se o Coachella 2010. Novas bandas, ou bandas não tão conhecidas também marcaram presença.

O Dillinger Escape Plan, como sempre, literalmente, arrebentou o palco do Gobi Stage. É impressionante como os rapazes conseguem, com tanta energia, saírem ilesos do palco. O show é de tirar o fôlego e se você piscar durante o show é capaz de perder algo muito interessante que está acontecendo.

Bandas como Tokyo Police Club e MGMT, mais comportadas, também marcaram gol no festival. São grandes promessas para os próximos festivais.

Thom Yorke e Perry Farrel
Não se assustem, Thom Yorke e Perry Farrel não tocaram juntos. Se bem que poderia ser algo interessante.

Thom Yorke, tocando suas canções sem o Radiohead, parece o Radiohead. Não era para menos. O músico é o principal compositor da banda e é natural que seu trabalho solo lembre o Radiohead. Destaque para a aparição de Flea do Red Hot Chilli Peppers tocando baixo no show de Thom Yorke. Aliás, Flea adora fazer uma pontinha, no bom sentido. Em 1993, durante o show do Nirvana em São Paulo, Flea apareceu tocando trumpete em "Smells Like Teen Spirit".

Perry Farrel continua o mesmo. Magro, com calças cor de rosa apertadas e rebolando muito, abriu o festival cantando trance como três bailarinos e uma crooner. Pelo que Perry Farrel luta, defendendo os diretos dos homossexuais e organizando eventos de rock, vale a pena considerarmos este senhor como pessoa intocável no cenário musical.
Creio que os US$ 300,00 gastos pelos “coachellers” para o festival tenham valido a pena. E respondendo a pergunta que Mike Patton fez ao público durante a apresentação do Faith No More no sábado “... Hey Coachella, are you still horny?” _ Sim Mike, ainda estamos como tesão!

Nos encontramos no Coachella Festival 2011.


Garotas floridas esperam o show do grupo White Rabbits

Sunny Day Real Estate foi uma das atrações do festival

Integrante do De La Soul no telão do palco

Mike Patton, do Faith No More, durante a apresentação no festival

Um comentário:

  1. Ótima matéria fiquei até com tesão de ir ao próximo.
    Valeu Marcelo por compartilhar conosco essa sua trip nas gringas.

    ResponderExcluir