quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Um dia de trabalho no Showlivre

Felipe S, cantor do Mombojó: "só uso esses óculos mesmo". Foto: Duca Mendes

Capítulo 3: “Mombojó e a brandura”

Por João Vicente Seno Ozawa*

Trabalho no setor de mídias sociais e marketing do Showlivre e, com alguma freqüência, recebo mensagens sobre como é trabalhar por aqui. Na maior parte dos casos, são pessoas que têm vontade de fazer parte da equipe e acreditam que deva ser incrível trabalhar com música o dia inteiro, só pensar nisso, só conversar sobre isso e, ainda, ganhar dinheiro com isso. Eu vou dizer que nunca trabalhei em um lugar como o Showlivre. Então, resolvi juntar o útil ao agradável e contar um pouco do meu olhar sobre o dia-a-dia que se passa aqui, episódios bacanas e, quem sabe, sanar um pouco a curiosidade dos que perguntam.

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Trabalhar no Showlivre confere uma grande vantagem ao cotidiano, que é a possibilidade de crescer seu repertório cultural, principalmente nos matizes relacionados à música. E, ao dizer isso, espero escapar de certa obviedade. Afinal, é claro que, ao trabalhar com pessoas imersas em música, descobre-se novas bandas e ouve-se canções desconhecidas. Porém, o que tento colocar aqui é, por exemplo, da ordem profunda de aprender sobre punk rock com quem ajudou a cunhar o termo neste país, e deu, assim, um teor tupiniquim ao que antes inexistia.

Na semana de 11 de agosto, o Mombojó foi um dos convidados do Estúdio Showlivre. Algumas horas antes da gravação, fomos eu, Clemente e Marcelo Shida, produtor do Showlivre.com, ao restaurante que tradicionalmente abastece de energia os habitantes daqui. Já comentei a respeito do lugar: é avizinhado por um belo e verde parque, distante da paisagem cinza que normalmente acompanha quem mora em São Paulo. E foi durante o almoço, após uma indagação minha sobre como aconteciam os encontros para audição de vinis, tempos atrás, que Shida e Clemente se encarregaram de mostrar como meu conhecimento sobre a história do punk é limitado. Ouve-se discos, assiste-se a documentários, sorve-se livros, mas nada como ouvir de quem esteve lá ou, melhor ainda, de quem fez e faz acontecer.

Terminado o almoço, de volta ao estúdio, o acaso atacou novamente (como em outras ocasiões retratadas aqui) e a van do Mombojó tratou de quebrar no caminho. Apesar disso, a banda aprumou seus instrumentos em velocidade recorde e, apesar de um choque de microfone aqui ou ali, o programa começou na hora correta.

Para não deixar de citar fatos curiosos que escapam aos olhos de quem assiste aos programas editados no Showlivre.com, um espectador perguntou, em determinado momento, o que os integrantes fariam caso a banda terminasse. Prontamente, o vocalista Felipe S relatou que continuaria sendo músico, pois largou a escola para isso. E, quando questionados sobre o momento mais difícil que já passaram, a resposta, “apesar do clichê” – segundo o vocalista, foi superar o falecimento de Rafael Virgilio, flautista, trombonista e violonista. Vale também a lembrança de Felipe S sobre a excelência musical de Rafael, algo distante do fim da vida, mas próximo da química entre este e a música. Aliás, alquimia relembrada em umas das faixas do novo álbum da banda, com sampler de uma melodia gravada anteriormente por Rafael.

E quando Clemente indagou sobre filmes, já que o vocalista “tem cara de quem gosta de cinema”, Chiquinho foi taxativo: “não, eu nem assisto tanto filme, só uso esses óculos mesmo”. E foi nesse clima brando, na frente e atrás das câmeras, que passou a apresentação do Mombojó.

*João Vicente Seno Ozawa é do setor de Mídias Sociais e Marketing do Showlivre.com e escreve no blog Muito horror show.

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